O
NAUFRÁGIO DO BIRKENHEAD
(no National Maritime Museum)
O evento que deu origem ao
protocolo “mulheres e crianças primeiro”
Embora
não exista base legal para o protocolo de “mulheres e crianças primeiro” em Direito
Marítimo Internacional, essa prática não oficial de se carregar botes
salva-vidas com mulheres e crianças primeiro é uma prática estabelecida que
pode ser rastreada até a era vitoriana. É um relato de cavalheirismo que
inspirou pintores e poetas, além de estabelecer o padrão para capitães e
oficiais da marinha no século 21 e começou com o desastre de um navio chamado
HMS (O Navio de Sua Majestade) Birkenhead, em 1852.
Esse
procedimento faz com que haja um recomeço de vida para as sobreviventes que tiveram
o infortúnio de participar de um evento como o descrito abaixo.
O
Birkenhead foi lançado ao mar em 30 de dezembro de 1845 e foi um dos primeiros
navios de casco de ferro construídos para a Marinha Real Britânica.
Inicialmente, o Birkenhead pretendia ser uma fragata a vapor, mas por razões
técnicas, ela foi convertida em um navio de guerra. Ela era o navio de
transporte de tropas mais rápido e confortável da época, capaz de alcançar o
Cabo da Boa Esperança em menos de 40 dias.
Infelizmente,
a viagem de 1852 do Birkenhead em direção ao Cabo seria sua última. Partiu da
Inglaterra com a finalidade de levar tropas para a África do Sul. Depois de uma
breve parada no porto de Simonstown para reabastecer com suprimentos, o navio
partiu desse porto em 25 de fevereiro de 1852, com cerca de 640 homens,
mulheres e crianças a bordo na última pernada da jornada até a
Baía de Algoa, seu destino final. Com o objetivo de obter uma melhor
velocidade, o capitão decidiu que o navio seguisse a 4,8 km da costa da África
do Sul. Navegava a uma velocidade constante de 8 nós (aproximadamente 15,7 km/h)
e usava apenas seus motores a vapor.
Por
volta das 2 horas da manhã, o Birkenhead tragicamente atingiu uma rocha
submersa. Embora esta rocha fosse visível quando o mar estava agitado,
dificilmente era observada quando estava calmo, como no dia em que o Birkenhead
passava por lá. Abriu-se um grande buraco no casco do navio e a água inundou a
parte da frente do convés inferior, matando centenas de soldados enquanto
dormiam.
O
capitão, numa tentativa de deslocar o navio da rocha, ordenou que os motores revertessem
— apenas infligindo maiores danos ao Birkenhead. Outra colisão aconteceu. Em
questão de segundos, os compartimentos dianteiros do navio foram inundados e o
navio começou a afundar.
Os
soldados restantes se reuniram no convés e aguardaram ordens de seus oficiais.
Uma parte da tripulação recebeu instruções para cuidar dos botes salva-vidas;
os outros soldados receberam ordens de permanecer no convés mais alto do navio.
Devido
à falta de cuidados com os cabos para baixar os botes, dois deles ficaram
inoperantes. Outro bote salva-vidas se encheu de água imediatamente por
manutenção inadequada. Os passageiros ficaram com apenas três botes,
lamentavelmente inadequados para todos escaparem, pois dois dos maiores barcos
com capacidade para 150 pessoas não estavam entre eles. Consequentemente, a
tradição naval de “mulheres e crianças primeiro” foi inaugurada, com várias
sendo remadas para segurança.
O
capitão mandou jogar os cavalos ao mar (oito dos nove animais conseguiram nadar
até a praia). Um tenente-coronel que assumira o comando de todo o pessoal
militar, conseguiu manter o mais alto nível de disciplina entre as tropas, se
reunindo na seção de popa, que era a única parte do navio ainda flutuando. Poucos
minutos depois, esta seção também afundou e, pouco antes de desaparecer
completamente, o capitão gritou: “Todos aqueles que sabem nadar, pulem no mar e
sigam até os botes!”. O tenente-coronel discordou dessa ordem porque percebeu
que se os homens nadassem para os botes salva-vidas, pela sobrecarga, os
pequenos botes afundariam também, colocando o resto dos passageiros em perigo. Ordenou
que suas tropas permanecessem a bordo, e a maioria fez isso, exceto por vários
soldados que tentaram nadar até os barcos.
Os
bravos soldados ficaram parados por mais de 20 minutos, agarrados aos restos do
navio. Mais tarde, alguns deles chegaram à praia depois de nadar por 12 longas
horas. Infelizmente, a maioria dos homens se afogou ou acabou sendo devorada
por tubarões. No dia seguinte, uma escuna encontrou um dos botes salva-vidas e
depois chegou aos destroços do Birkenhead. Encontrou-se 40 sobreviventes agarrados
a pedaços de madeira.
Apenas
193 pessoas sobreviveram ao naufrágio. Hoje, um farol se encontra no local do
acidente, sinalizando para todos os navios que chegam lá perto que há um recife
perigoso e mortal nas proximidades.
Esse
terrível desastre é lembrado não apenas por causa do grande número de mortos;
tornou-se também a primeira evacuação marítima em que o protocolo conhecido
como “mulheres e crianças primeiro” foi aplicado. Logo após o naufrágio do
Birkenhead, essa famosa frase e regra se tornou um procedimento-padrão, dando
assim nova esperança de um recomeço.
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