sexta-feira, 19 de novembro de 2010

UM ÁS NA SUPERAÇÃO


Muitos foram os herois da Segunda Guerra Mundial. Relatos a respeito de atos de bravura, perseverança e de superação são frequentes, além das consequentes mutilações sofridas. Esta é a história de um desses herois. Seu nome era Sir Douglas Bader.

Já se interessara por aviação desde os 13 anos de idade e a encarava como um esporte por excelência. Estudava na Universidade de Cambridge quando, em 1928, prestou concurso para ingressar como cadete na Força Aérea Real (RAF), classificando-se em 5º lugar. Contra a vontade de sua mãe, largou a universidade para se tornar um piloto. Tinha então 18 anos de idade.

Com apenas 11 horas e 15 minutos de voo com instrutor, pôde voar solo pela primeira vez. Após dois anos de treinamento, recebeu seu primeiro posto como Oficial da RAF. Jogava hóquei e lutava boxe, mas também participava de corridas ilegais de automóvel e motocicleta, quase sendo expulso por não apresentar comportamento militar exemplar. Como se não bastasse isto, era um piloto ainda mais arrojado, fazendo acrobacias aéreas perigosas e proibidas. Não eram permitidas manobras acrobáticas abaixo de 2000 pés (700 metros), mas Douglas Bader achava que era uma regra exagerada. Foi até ameaçado de corte marcial se desobedecesse.

Bader foi convidado a participar do famoso Show Aéreo de Hendon, perto de Londres. Dois pilotos já haviam morrido lá durante acrobacias aéreas. Haviam sido alertados para não fazer nenhuma acrobacia abaixo de 2000 pés e permanecer acima de 500 pés o tempo todo. Em 14 de dezembro de 1931, Douglas Bader estava treinando num aeroclube, quando tentou fazer acrobacias a baixa altitude para se exibir. Sua aeronave se espatifou quando a ponta da asa esquerda bateu no chão. Foi imediatamente levado a um hospital e atendido por um proeminente cirurgião (J. Leonard Joyce - 1882–1939), que amputou suas duas pernas - uma acima e a outra abaixo do joelho.

Em 1932, após uma longa e dolorosa convalescença, recebeu duas próteses e lutou muito para voltar a andar sem uso de uma bengala, a dançar e a jogar golfe. Com o tempo, pôde guiar novamente um automóvel, especialmente adaptado para ele. Em meados daquele ano, ele conseguiu provar a todos que ainda tinha a capacidade de pilotar um aeroplano. Um exame médico comprovou que ele poderia voltar a voar, porém a RAF só lhe ofereceu trabalho em escritório. Deixou a RAF e foi trabalhar para a Cia. de Petróleo Asiático (a atual Shell).

Com o aumento das tensões europeias em 1937-1939, Bader não parou de perturbar o Ministério da Aeronáutica até obter uma autorização para passar por testes na Escola Central de Aviação. Apesar da relutância das autoridades em aceitá-lo, sua insistência logrou êxito. Participou de cursos de atualização e voltou a voar solo. É desnecessário dizer que não resistiu à tentação de praticar acrobacias a menos de 600 pés do chão!

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, participou de muitas incursões sobre a Europa ocupada. Abateu o primeiro avião inimigo sobre Dunquerque, quando defendia os combatentes na sua desastrosa retirada de volta às Ilhas Britânicas.

De Oficial foi promovido para Tenente e depois para Líder de Esquadrão. Mais tarde tornou-se Comandante. Acha-se que o sucesso de Douglas Bader como piloto de guerra se devia em parte ao fato de não ter os membros inferiores, uma vez que durante manobras aéreas de combate, a visão dos pilotos escurece pois, devido à força gravitacional, o sangue do cérebro se desloca para as partes inferiores do corpo, geralmente para as pernas. Como Bader não tinha pernas, ele conseguia se manter consciente por mais tempo que seus saudáveis inimigos.

Atribuem-se a ele 20 aeronaves inimigas derrubadas. Várias outras não foram confirmadas. Em março de 1941, tornou-se Comandante do Ar, patente equivalente a um tenente-coronel do Exército ou comandante naval da Marinha.

Em 9 de agosto de 1941, Douglas Bader foi abatido sobre a França ocupada pelos alemães. A fuselagem posterior, a cauda e o leme de seu avião estavam destruídos. Retirou sua máscara de oxigênio e seu capacete e tentou se atirar da cabine, mas teve dificuldades, porque uma das próteses tinha se enroscado em algum equipamento. Enfim, conseguiu quebrá-la e saltar.

As forças alemãs inicialmente trataram Bader com muito respeito. Entraram em contato com os ingleses e o próprio Comandante da Força Aérea Alemã, Hermann Goring, autorizou a “Operação Perna”, quando um bombardeiro inglês voou sobre a França ocupada e deixou cair de paraquedas uma perna artificial para o prisioneiro amputado.

Bader fez de tudo para infernizar a vida dos seus carcereiros e tentou escapar várias vezes. Foi ameaçado de ficar sem suas próteses caso tentasse nova fuga. Foi transferido para o Castelo de Colditz, na Saxônia, onde permaneceu até ser liberado pelo Exército Americano, em abril de 1945.

Douglas Bader foi sempre uma inspiração para deficientes físicos e, mesmo antes da Guerra, ele procurava estimular as pessoas na recuperação de suas mutilações. Depois da Guerra, dedicou uma boa parte de seu tempo trabalhando com deficientes, principalmente amputados, pelo resto de sua vida.

Continuou jogando golfe, demonstrando uma capacidade incrível, superando muitos golfistas profissionais, conseguindo uma tacada invejável de 200 jardas (mais de 180 metros). Andava com suas próteses de membros inferiores sem dificuldade.

Depois da Guerra, voltou a trabalhar para a Shell, tornando-se um alto executivo do grupo de aviação (Shell Aviation / Aeroshell) com 250.000 funcionários sob seu comando. Pôde então voltar a voar, agora pela empresa para a qual trabalhava. Também tornou-se internacionalmente conhecido, viajando o mundo como palestrante. Aposentou-se em 1969. Em 1976, recebeu o título de “Sir” pelos serviços prestados em benefício de amputados. Pilotou uma aeronave pela última vez, em 1979. Tinha problemas cardíacos e faleceu em 1982, aos 72 anos, vítima de um enfarto do miocárdio.

Uma biografia dele foi escrita em 1954 e filmado em 1956: Vontade Indomável (Reach For The Sky). Após sua morte, sua família e amigos formaram a Fundação Douglas Bader, uma organização que tem como objetivo cuidar do bem-estar físico, mental e espiritual de deficientes que não possuam um ou mais membros ou mesmo de outros deficientes físicos. O lema da Fundação é: “O deficiente que luta não é um deficiente, é uma pessoa inspirada”.

2 comentários:

  1. DR Walter
    Mais uma vez voce nos da, como sempre ,o prazer de uma boa leitura.Historia interessante, re
    dação fluente, gramatica impecavel
    e assunto comovente.
    Parabens
    TACC

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  2. TACC disse...
    DR Walter
    Mais uma vez voce nos da, como sempre ,o prazer de uma boa leitura.Historia interessante, re
    dação fluente, gramatica impecavel
    e assunto comovente.
    Parabens
    TACC

    15:38:00

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