La vendetta è un piatto
che se mangia fresco
che se mangia fresco
OUTRO DIA, NUM DOS INTERVALOS ENTRE CONSULTAS no ambulatório onde trabalho, um de meus colegas contou-me a seguinte experiência:
Vários anos atrás, estava retornando de um plantão, de carro e foi fechado por outro automóvel, resultando numa colisão na qual seu carro novo ficara muito amassado.
O motorista desceu, se apresentou como o dono da lanchonete em frente ao local do sinistro e garantiu que pagaria o conserto.
Tanto é, que levou-o a uma oficina mecânica a menos de um quarteirão de distância e foi feito e aprovado na hora um orçamento pelo causador do acidente.
Alguns dias se passaram. Quando meu colega foi buscar o carro, qual não foi a surpresa de encontrá-lo ainda desmontado.
— Seu doutor, o moço da lanchonete disse que não vai pagar — informou o mecânico.
— Como assim?
— Disseram-lhe que estava sendo burro e otário em pagar o conserto.
O colega foi até a lanchonete e lá o homem foi categórico. Não ia pagar, por recomendação de amigos, pois não tinha nenhuma obrigação e que ele se virasse!
Diante disso, meu colega não teve argumentos. A alternativa foi voltar à oficina, pagar o conserto e sair com o carro, quando este ficou pronto.
Procurou a delegacia do bairro. Chegando, viu uma viatura parada defronte com quatro policiais, daqueles que usam camisa de manga curta bem justa a envolver braços musculosos e óculos escuros tipo Ray-ban, de aspecto bastante ameaçador.
Foi conversar com eles. Contou-lhes o que tinha acontecido. Fez-lhes uma proposta.
— Gostaria que dessem um susto nele. Se levarem sua grana, o problema é de vocês. Fica com ela. Eu não quero nada.
Concordaram.
Meu colega voltou à lanchonete e se posicionou em local estratégico, a menos de 20 metros de distância (do outro lado da avenida).
Repentinamente, chega a viatura Veraneio, de sirene ligada, cantando os pneus, subindo na calçada, parando abruptamente na porta da lanchonete. Descem dela os quatro homens fardados e entram.
— Quem é... — fala um deles, consultando uma anotação —, ...Fulano de Tal?
— Sou..., sou eu — responde o proprietário, assustado.
— Ah! — diz outro policial. — Estamos investigando uma colisão em que o cidadão se envolveu e não quer pagar o conserto do carro da vítima. Foi apresentada queixa e agora estamos coletando dados para montar um processo contra o senhor.
— Mas..., mas... — tenta dizer o homem da lanchonete.
— Não tem nada de "mas" — retruca agressivamente um dos soldados. — A vítima vai te processar!
— É que meus amigos me disseram que estava sendo trouxa em querer pagar o conserto, já que não se fez Boletim de Ocorrência — justificou o cidadão.
— Belos amigos que você tem. O senhor não sabe que isso não se faz?
Outro policial vira-se para ele e diz:
— Bem, se o senhor quiser, podemos dar um jeitinho, mediante uma caixinha...
Esperança aparece nos olhos do causador de toda a confusão.
— Sim, sim?
Essa conversa foi relatada posteriormente a meu colega pelos policiais. De onde havia ficado observando, vira as gesticulações apavoradas do dono da lanchonete, mas nada conseguira ouvir àquela distância.
Devem ter recebido uma soma em dinheiro, muito embora não tivessem lhe dito nem que sim, nem que não e ele preferiu também não perguntar.
Entretanto, depois da viatura ir embora, o colega foi até a lanchonete.
Chegou perto do proprietário e disse:
— Isso é para o senhor aprender com quem está lidando.
— De... desculpe!
— Não tem nada de desculpas. Isso foi só pra começar. O senhor nem imagina o que ainda vem por aí. Não perde por esperar!
Deu-lhe as costas e foi-se embora.
Cerca de um mês depois, por ser aquela avenida passagem obrigatória para meu colega voltar do plantão, olhou para a lanchonete. Estava afixada uma grande faixa escrita: "Sob Nova Direção".
Só pôde chegar a uma conclusão: o apavorado dono vendera a lanchonete de tanto medo que ficara de outras investidas do colega prejudicado.
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