domingo, 15 de junho de 2008

QUEM ANDA DO LADO ERRADO?

Antigamente, a lógica mandava que as pessoas circulassem pelas estradas e nas ruas da melhor posição possível para poderem usar uma espada para se proteger. Como a maioria é destra, tinha de se manter à esquerda, para não ter de encarar um eventual ataque por cima da cabeça de seu cavalo. Por volta de 1300, esta prática foi oficializada através de uma bula papal, pelo Papa Bonifácio VIII, que recomendava a todos os peregrinos para que andassem à esquerda.
Nada mudou até 1773, quando o aumento de trânsito à cavalo fez com que o governo britânico exigisse que se circulasse do lado esquerdo das vias, e isto virou lei em 1835.
Está menos claro porque muitos adotaram o lado contrário para circular. A versão mais aceita é de que os franceses, como católicos, seguiram a bula papal. Durante o período que antecedeu a Revolução Francesa, a aristocracia guiava suas carruagens em alta velocidade pelo lado esquerdo das ruas, forçando a plebe a pular para o lado direito, para maior segurança. Com a Revolução, os instintos de auto-preservação levaram o que sobrou da aristocracia a se juntar à plebe do lado direito das ruas. O primeiro registro oficial de se manter a circulação do lado direito das vias públicas é de 1794, na cidade de Paris.
A expansão colonialista da Grã-Bretanha espalhou pelo mundo o conceito de se manter o lado esquerdo. Isto incluiu a Índia, Australásia e grande parte da África (embora muito países africanos mudaram para o lado direito depois da sua independência).
A França também manteve muitas colônias após as guerras revolucionárias e conservou as regras de se circular pelo lado direito na maior parte da Europa, estendendo-se a colônias como o Egito. Parece que em relação aos Estados Unidos, foi o General Lafayette que recomendou que se adotasse o lado direito como parte do apoio dado aos americanos durante a preparação para a Guerra da Independência. A primeira lei americana estabelecendo a obrigatoriedade de se ficar à direita data de 1792, em relação a uma estrada entre Lancaster e Philadelphia.
Na época da Rainha Vitória, o Japão foi obrigado a abrir seus portos para os britânicos, por motivos diplomáticos, e os japoneses foram convencidos a adotarem a circulação pelo lado esquerdo, o que permanece até hoje.
Os primeiros automóveis seguiram o princípio das carruagens a tração animal, com o chofer sentado no centro. Quando os proprietários dos carros descobriram como era interessante dirigir, quiseram que as pessoas se sentassem a seu lado enquanto guiavam, e o volante foi definitivamente colocado em um dos lados do painel.
O lado onde ficava o volante seguiu a tradição de cada país e, portanto, os primeiros carros (Benz na Alemanha), o tinham do lado esquerdo, pois se circulava pela direita. A principal exceção foi dos carros de corrida, cujos volantes eram construídos do lado direito, que ficava melhor para corridas em círculo. Por isso, na Europa, quase todos os carros esportivos italianos antes de 1950 tinham o volante do lado direito. Todos os Bugatti também o têm do lado direito.
Apesar da insistência de outros países europeus, é bem provável que a Grã-Bretanha e outros países que circulam do lado esquerdo nunca adotem uma mudança para o lado direito. É economicamente inviável, pelo número elevado de veículos existentes com volante à direita e, também, porque o Japão, o maior produtor de automóveis do mundo, que precisa produzir veículos para seu próprio mercado e para exportação, já alegou que jamais mudará de lado, assim garantindo suprimento para o mundo inteiro.
Desde as primeiras locomotivas, nos primórdios do século XIX, os trens circulavam nas ferrovias pelo lado esquerdo. Isto acontece até hoje, inclusive aqui no Brasil. No entanto, o trânsito por via fluvial se faz pela direita, mesmo na Inglaterra. Não há uma explicação plausível para isto, mas a teoria favorita é de que se nos barcos impulsionados por vara (como as gôndolas) ou a um remo só, o remador destro fica à esquerda, o timoneiro tem de ficar do lado direito, e quando a embarcação chega à margem, a tendência é descer por aquele lado.

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