quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O CALENDÁRIO E O ANO BISSEXTO

Sendo 2008 um ano bissexto, interessou-me pesquisar sua origem, razão de ser e, ao mesmo tempo, estudar o calendário que adotamos.
Desde os tempos mais remotos existiram calendários, devido à necessidade do Homem de contar o tempo e à observação do dia e da noite, e das estações do ano. Muitos calendários passavam de pais para filhos oralmente, quando ainda não existia a escrita e, mais tarde, havendo-a, baseou-se freqüentemente na ascensão dos monarcas, levando a enormes confusões na cronologia da história da humanidade.
Havia grandes dificuldades para sua adequação, justamente porque a duração do dia e de um mês não é um múltiplo exato, resultando num ano inexato.
Muitos séculos antes de Cristo, os egípcios já utilizavam um ano de 360 dias que se iniciava com a enchente anual do Nilo. A cada 4 anos, começaram a adicionar um dia, depois de deduzirem que um ano correspondia a 365,25 dias.
Em 46 a.C., o Imperador Júlio César (Gaius Julius Caesar, 102-44 a.C.) reformou o calendário existente em Roma, no qual se introduzia um 13º mês sempre que se achava necessário e, assim, surgiu o Calendário Juliano, com 12 meses em que, a cada 4 anos, havia um ano de 366 dias. Esse calendário foi adotado na Europa por cerca de 1500 anos.
Foi observado que, apesar da correção a cada 4 anos, o Calendário Juliano não era preciso, pois o ano apresentava 11 minutos e 14 segundos a mais em relação ao Ano Solar. Com o passar do tempo, essa diferença afetava as datas do início das estações e dos festivais religiosos.
Em 1582, o Papa Gregório XIII (1502-1585), após vários estudos juntamente com astrônomos e matemáticos, modificou o Calendário Juliano e elaborou o Calendário Gregoriano, que é utilizado até os dias de hoje. Através de muitos erros e acertos, chegou-se à seguinte regra, que é seguida desde então: “Será bissexto todo ano cujo número seja divisível por 4 e não divisível por 100, sendo também bissexto os anos divisíveis por 400”.
Como o Ano Juliano é mais longo que o Ano Solar, no final de um século há um excedente de cerca de ¾ de um dia. Em 4 séculos, essa diferença corresponde a aproximadamente 3 dias. Como a cada 4 anos há um ano bissexto, em cada 400 anos teríamos 100 bissextos. Considerando-se que os dias excedentes seriam introduzidos nos futuros anos bissextos, a solução ao problema foi de eliminar 3 anos bissextos para se eliminar os 3 dias excedentes, ou seja, a partir de 1582 somente poderiam existir 97 anos bissextos a cada 400 anos. Escolheu-se então retirar os anos bissextos divisíveis por 100 (que seriam 4), mas para poder retirar apenas 3, manteve-se o único ano bissexto divisível por 400. Por esse motivo, um em cada 4 anos de fim de século é considerado ano bissexto, mas tão somente se for divisível por 400. Os anos de 1700, 1800, 1900 não foram anos bissextos, assim como 2100 não o será, porém 1600 e 2000 foram bissextos, por serem divisíveis por 400. A engenhosidade para resolver este problema talvez seja um dos cálculos mais brilhantes do século XVI.
Quando Júlio César introduziu seu calendário em 46 a.C., ele fez com que o ano se iniciasse em 1º de janeiro, mas nem sempre foi assim. A Igreja não gostava das festividades quase pagãs que ocorriam no Ano Novo e, em 567 d.C., o Concílio de Tours declarou que iniciar o ano em 1º de janeiro era um erro que precisava ser corrigido. Durante a Idade Média várias datas foram usadas, gerando muitos problemas de interpretação.
Apesar de representar um avanço, e muitos países adotarem o Calendário Gregoriano, principalmente os países protestantes demoraram para aceitá-lo. Na Alemanha só foi adotado no século XVII, e países europeus como Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia, no séc. XVIII. Curiosamente, na Inglaterra (e não na Escócia), o ano histórico começava em 1º de janeiro e o ano litúrgico se iniciava no primeiro dia do Advento (quatro semanas antes do Natal). No entanto, o ano civil variou muito: do século VII ao século XII, começava em 25 de dezembro; do século XII até 1751, em 25 de março. Somente após 1752, quando adotou-se o Calendário Gregoriano, oficializou-se a data de 1º de janeiro. Vários países só adotaram esse calendário no século XX, como Bulgária, Grécia, Iugoslávia, Romênia, Turquia e União Soviética. Na China foi aceito para vigorar simultaneamente com o calendário tradicional chinês. No Brasil, colônia de Portugal, então sob domínio da Espanha, passou a vigorar em 1582, data em que fora instituído pelo Papa Gregório XIII.
É interessante saber a forma inglesa de se chamar o ano bissexto: leap year. Ao pé da letra, significa “o ano que pula”. Cogita-se que deriva do fato dos festivais, após o dia intercalado (29 de fevereiro), “pulam” um dia à frente.
O antigo calendário romano apresentava três dias fixos no mês, baseados no ciclo lunar e um mês dividia-se em três partes, separadas por calendas (lua nova), nonas (quarto crescente) e idos (lua cheia). Os demais dias eram contados de trás para a frente em relação ao dia fixo subseqüente. O dia 2 de janeiro, por exemplo, era antediem IV nonas januarii, “quatro dias antes da nona de janeiro”, o dia 3 de fevereiro, antediem III nonas februarii, ou seja “três dias antes da nona de fevereiro” e assim por diante. Obviamente, calendas resultou no termo “calendário”.
Júlio César não inventou um novo dia (como existe hoje o dia 29 de fevereiro) para compensar o dia a mais a cada 4 anos, mas escolheu, aleatoriamente, o dia 24 de fevereiro para ser repetido novamente. Esse dia, em latim, chamava-se bis sextum antediem calendas martii, “o segundo sexto dia antes da calenda de março”. Daí a origem do termo bissexto.

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