No
século XIX, o serviço postal inglês, o Royal Mail, levava correspondência de um
local para outro em suas próprias carruagens, que também serviam para
transportar passageiros. Geralmente paravam em estalagens pré-determinadas onde
havia um agente do correio para receber e entregar a correspondência. Esta
situação perdurou até 1852, quando foram instaladas as primeiras caixas de
coleta por ordem de Sir Rowland Hill, chefe do correio e quem idealizou o
primeiro selo postal 12 anos antes (1840 – o Penny Black).
As primeiras caixas de correio eram
cilíndricas e imitavam colunas dóricas e se tornaram um ícone da Grã-Bretanha, da
mesma maneira que as conhecidas cabines telefônicas vermelhas. A ideia não era
original, pois caixas de coleta parecidas já existiam na França.
Com o passar dos anos adotaram-se
muitos formatos diferentes. Variaram de acordo com a época em que foram
fabricadas e o material utilizado. As mais tradicionais são de ferro fundido,
mas já foram feitas de fibra de vidro e de plástico especial, para uso em ambientes
fechados como supermercados e aeroportos.
Estas caixas, em geral, medem cerca de
1,70m de altura. Uma parte do corpo fica enterrada no subsolo, para lhe dar
maior estabilidade. O corpo da caixa é encimado por um cone protetor que pode,
ou não, ser ornamentado. É todo pintado de vermelho com a base preta. Por uns
tempos, houve caixas de correio específicas para correspondência aérea que eram
pintadas de azul ou verde (1930-1938). A abertura para as cartas geralmente tem
uma proteção contra chuva. A largura das aberturas foi acompanhando o aumento
do tamanho das cartas, que na época da Rainha Victoria ainda eram muito
pequenas. Abaixo dela encontra-se uma placa indicativa dos horários de coleta,
muitas vezes com destaque para o último horário do dia em que ocorre. Há ainda caixas
do Royal Mail com duas aberturas, uma para o correio local e outra para demais
destinos. As caixas de coleta apresentam as insígnias do soberano reinante,
desde a Rainha Victoria até a Rainha Elizabeth II, passando por Eduardo VII, George
V, Eduardo VIII e George VI. Há uma portinhola na parte inferior com fechadura
que o agente do correio abre para retirar as correspondências. Esta portinhola
também varia de acordo com o modelo, podendo ser pequena ou abranger quase toda
a estrutura vertical da caixa.
O corpo cilíndrico da caixa pode ser
redondo, ovalado ou então hexagonal. A caixa de coleta hexagonal é considerada
o primor da era victoriana. São graciosas caixas cujo cone protetor é
ornamentado com folhas e frutos do acanto (Acanthus
mollis), com um tipo de pinha na ponta do cone protetor. São conhecidas por
caixas de correio Penfold, em homenagem ao arquiteto que as desenhou. Ainda existem
cerca de uma centena delas em uso.
As caixas do Royal Mail também foram
instaladas nas colônias inglesas, conservadas até os dias de hoje em países agora
independentes ou que fazem parte da Comunidade Britânica. Recentemente recebi a
fotografia de uma caixa de coleta encontrada na Austrália, em Sidney. Tem-se
notícias de caixas de correio com os formatos mencionados em Marrocos, Israel, Kuwait,
Bahrein e Dubai, territórios que dispunham de agências postais britânicas. Na
Irlanda independente, as caixas de coleta que lá permaneceram, foram pintadas
de verde.
Além das caixas cilíndricas, foram
também instituídas caixas de coleta de parede, menores e mais baratas, que já
surgiram em zonas rurais da Inglaterra por volta de 1857. Há também caixas de
coleta presas a postes de luz ou suportadas sobre postes à semelhança das
brasileiras.
Depois da Rainha Elizabeth II subir ao
trono, as caixas de correio novas foram identificadas com sua insígnia: EIIR.
Uma destas foi instalada em Edimburgo, capital da Escócia. Foi pichada e depois
destruída por nacionalistas escoceses. Alegou-se que a Rainha Elizabeth I
reinou antes do Tratado da União dos países (1707) e, portanto, a nova monarca
só poderia ser a Rainha Elizabeth I da Escócia, e não Elizabeth II, pois a
outra rainha foi somente dos ingleses. Por uns tempos, as caixas de correio na
Escócia tinham como insígnia ER com a coroa inglesa sobre as letras. Depois da
devolução dos símbolos escoceses (Pedra do Destino, coroa, cetro e espada) em
1996, após 700 anos nas mãos dos ingleses, todos os tipos de caixas de coleta
são identificados apenas com a coroa escocesa, cuja imagem é ligeiramente
diferente da coroa inglesa.
Na atualidade, muitas das caixas de
coleta encontram-se em museus postais de várias cidades, todavia há caixas
tradicionais e modernas espalhadas por todas as ilhas britânicas. Nas comemorações
da Olimpíada de Londres em 2012, o Royal Mail e os serviços postais das ilhas
de Man e Guernsey (correios independentes) pintaram caixas de coleta de dourado
na cidade natal de cada membro da equipe britânica que tinha ganho uma medalha
olímpica de ouro. Eram para ser pintadas novamente de vermelho ao final da
Olimpíada, porém decidiu-se mantê-las na cor homenageada.
O interesse por este símbolo dos
britânicos é tão grande que, desde 1976, existe o Grupo de Estudos de Caixas de
Coleta (Letter Box Study Group) que
já conseguiu identificar cerca de 700 tipos diferentes dos três tipos de caixas
de coleta, cilíndricos, de parede e de poste (letter boxes, pillar boxes, wall boxes e lamp boxes, respectivamente, para quem desejar pesquisar na Internet).
Pessoalmente, só me despertei às caixas
de coleta e sua flagrante elegância na paisagem britânica após notar o
gradativo desaparecimento, em nome da modernidade, das tradicionais e tão
características cabines telefônicas vermelhas quadriculadas. Espero que isso não
aconteça com as caixas de correio.
Se os britânicos, tão
tradicionalistas, não souberem manter as tradições, quem mais irá?
2013
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