domingo, 20 de outubro de 2013

As Elegantes Caixas do Correio Britânico



No século XIX, o serviço postal inglês, o Royal Mail, levava correspondência de um local para outro em suas próprias carruagens, que também serviam para transportar passageiros. Geralmente paravam em estalagens pré-determinadas onde havia um agente do correio para receber e entregar a correspondência. Esta situação perdurou até 1852, quando foram instaladas as primeiras caixas de coleta por ordem de Sir Rowland Hill, chefe do correio e quem idealizou o primeiro selo postal 12 anos antes (1840 – o Penny Black).
       As primeiras caixas de correio eram cilíndricas e imitavam colunas dóricas e se tornaram um ícone da Grã-Bretanha, da mesma maneira que as conhecidas cabines telefônicas vermelhas. A ideia não era original, pois caixas de coleta parecidas já existiam na França.
Com o passar dos anos adotaram-se muitos formatos diferentes. Variaram de acordo com a época em que foram fabricadas e o material utilizado. As mais tradicionais são de ferro fundido, mas já foram feitas de fibra de vidro e de plástico especial, para uso em ambientes fechados como supermercados e aeroportos.
Estas caixas, em geral, medem cerca de 1,70m de altura. Uma parte do corpo fica enterrada no subsolo, para lhe dar maior estabilidade. O corpo da caixa é encimado por um cone protetor que pode, ou não, ser ornamentado. É todo pintado de vermelho com a base preta. Por uns tempos, houve caixas de correio específicas para correspondência aérea que eram pintadas de azul ou verde (1930-1938). A abertura para as cartas geralmente tem uma proteção contra chuva. A largura das aberturas foi acompanhando o aumento do tamanho das cartas, que na época da Rainha Victoria ainda eram muito pequenas. Abaixo dela encontra-se uma placa indicativa dos horários de coleta, muitas vezes com destaque para o último horário do dia em que ocorre. Há ainda caixas do Royal Mail com duas aberturas, uma para o correio local e outra para demais destinos. As caixas de coleta apresentam as insígnias do soberano reinante, desde a Rainha Victoria até a Rainha Elizabeth II, passando por Eduardo VII, George V, Eduardo VIII e George VI. Há uma portinhola na parte inferior com fechadura que o agente do correio abre para retirar as correspondências. Esta portinhola também varia de acordo com o modelo, podendo ser pequena ou abranger quase toda a estrutura vertical da caixa.
O corpo cilíndrico da caixa pode ser redondo, ovalado ou então hexagonal. A caixa de coleta hexagonal é considerada o primor da era victoriana. São graciosas caixas cujo cone protetor é ornamentado com folhas e frutos do acanto (Acanthus mollis), com um tipo de pinha na ponta do cone protetor. São conhecidas por caixas de correio Penfold, em homenagem ao arquiteto que as desenhou. Ainda existem cerca de uma centena delas em uso.
        As caixas do Royal Mail também foram instaladas nas colônias inglesas, conservadas até os dias de hoje em países agora independentes ou que fazem parte da Comunidade Britânica. Recentemente recebi a fotografia de uma caixa de coleta encontrada na Austrália, em Sidney. Tem-se notícias de caixas de correio com os formatos mencionados em Marrocos, Israel, Kuwait, Bahrein e Dubai, territórios que dispunham de agências postais britânicas. Na Irlanda independente, as caixas de coleta que lá permaneceram, foram pintadas de verde.
        Além das caixas cilíndricas, foram também instituídas caixas de coleta de parede, menores e mais baratas, que já surgiram em zonas rurais da Inglaterra por volta de 1857. Há também caixas de coleta presas a postes de luz ou suportadas sobre postes à semelhança das brasileiras.
Depois da Rainha Elizabeth II subir ao trono, as caixas de correio novas foram identificadas com sua insígnia: EIIR. Uma destas foi instalada em Edimburgo, capital da Escócia. Foi pichada e depois destruída por nacionalistas escoceses. Alegou-se que a Rainha Elizabeth I reinou antes do Tratado da União dos países (1707) e, portanto, a nova monarca só poderia ser a Rainha Elizabeth I da Escócia, e não Elizabeth II, pois a outra rainha foi somente dos ingleses. Por uns tempos, as caixas de correio na Escócia tinham como insígnia ER com a coroa inglesa sobre as letras. Depois da devolução dos símbolos escoceses (Pedra do Destino, coroa, cetro e espada) em 1996, após 700 anos nas mãos dos ingleses, todos os tipos de caixas de coleta são identificados apenas com a coroa escocesa, cuja imagem é ligeiramente diferente da coroa inglesa.
Na atualidade, muitas das caixas de coleta encontram-se em museus postais de várias cidades, todavia há caixas tradicionais e modernas espalhadas por todas as ilhas britânicas. Nas comemorações da Olimpíada de Londres em 2012, o Royal Mail e os serviços postais das ilhas de Man e Guernsey (correios independentes) pintaram caixas de coleta de dourado na cidade natal de cada membro da equipe britânica que tinha ganho uma medalha olímpica de ouro. Eram para ser pintadas novamente de vermelho ao final da Olimpíada, porém decidiu-se mantê-las na cor homenageada.
       O interesse por este símbolo dos britânicos é tão grande que, desde 1976, existe o Grupo de Estudos de Caixas de Coleta (Letter Box Study Group) que já conseguiu identificar cerca de 700 tipos diferentes dos três tipos de caixas de coleta, cilíndricos, de parede e de poste (letter boxes, pillar boxes, wall boxes e lamp boxes, respectivamente, para quem desejar pesquisar na Internet).
        Pessoalmente, só me despertei às caixas de coleta e sua flagrante elegância na paisagem britânica após notar o gradativo desaparecimento, em nome da modernidade, das tradicionais e tão características cabines telefônicas vermelhas quadriculadas. Espero que isso não aconteça com as caixas de correio.
Se os britânicos, tão tradicionalistas, não souberem manter as tradições, quem mais irá?


2013

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