terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A LENDA DA ÁRVORE DE NATAL


(ou uma sátira a uma piada de mau gosto)

Colaborador: Roberto Antonio Aniche, médico ortopedista de São Paulo.

O Papai Noel é um gordo morador de Itaquera, que todo final de ano trabalha vestido como o bom velhinho. É hipertenso e diabético, isto explica o seu rosto vermelho e redondo. Não gosta de crianças.

A Mamãe Noel foi descoberta quando fazia uma ponta no restaurante self-service Comida da Fazenda no Shopping Penha. Tão gorda quanto o Papai Noel, suas pernas lembram linfangite crônica. Mal humorada e com dores nos joelhos de tanto ficar em pé, aceitou de bom grado um emprego temporário para ficar sentada.

Os duendes foram encontrados alcoolizados num circo e concordaram em trabalhar somente uma noite, desde que continuassem alcoolizados.

O anjinho do final do conto é um garoto pentelho, mas ingênuo, não tem nada a ver com estas criaturas fantásticas que nos guardam os caminhos.

Qualquer semelhança com a vida real será mera coincidência, ou melhor, impossível, já que Papai Noel não existe, Mamãe Noel é invenção de feministas masculinizadas, duendes só existem petrificados em jardins e anjinhos, bom, isto é outra estória.

Tudo começa na véspera do Natal, quando no Polo Norte neva muito, faz muito frio e vento e somente alguém com um grande coração e apego à humanidade sairia naquela noite para entregar presentes às crianças do mundo. Mas Papai Noel tem esse coração nobre, esta bondade estampada no rosto vermelho e gordo.

Não importa se está chovendo, nevando, ventando, esfriando, o fato é que, mesmo do alto do seu diabetes, Papai Noel tem que sair de casa, carregar o trenó, arrear as renas e sair, tocando seu sininho, para entregar presentes para as crianças boas do mundo todo. A cada ano que passa ele trabalha menos: as crianças só passam de ano por decreto, comem o que aparece, mas enganam a fome como os habitantes dos Andes, só que em vez de mastigar, cheiram a coca.

O Papai Noel deste ano não está habituado com o frio, umidade, vento, e principalmente trabalho, já que sempre deu um jeito de ficar encostado no INSS e acabou contraindo uma daquelas gripes imensas, mesmo tendo sido vacinado no Posto.

Chamou a Mamãe Noel para ajudar a colocar os brinquedos no trenó. A velha gorda estava bem quentinha na cozinha, sentada, dando repouso à artrose dos joelhos.

— Levantar daqui? Não sou sua empregada, velho esclerosado!

E continuou ao lado do fogão, assando alguma coisa que cheirava tão bem que era impossível deixar de pensar no Natal. Papai Noel insistiu. Foi chamado de vagabundo, gordo, vai procurar sua turma, etc. etc.

Papai Noel lembrou dos duentes, afinal, eram eles os fabricantes de brinquedos. Correu, ou tentou correr no meio da neve, e chegou ao galpão. Abriu a porta pesada e teve a sua segunda decepção: fim de ano, acabou o trabalho, todos se confraternizavam comendo lingüiça, churrasco de asa de frango, cachaça.

Um bando de duendes já é coisa difícil de se encontrar, imaginem um bando de duendes sóbrios, isto sim é raridade. Papai Noel pediu, chamou, chorou, implorou, mas ninguém notava sua presença. Foi aí que deu um grito alto, esmurrando uma mesa. Conseguiu chamar a atenção: todos os duendes calaram-se prestando atenção no bom velhinho gripado.

Ele falou tudo de novo: Mamãe Noel era um pé-no-saco, ele estava velho, diabético, hipertenso, com uma gripe enorme e tinha que carregar o trenó com brinquedos. Os duendes prestaram atenção, mesmo completamente cachaçados. Um deles cochicou com outro, que cochichou com outro e assim por diante. Papai Noel alegrou-se esperando a tão necessária ajuda. Foi quando todos gritaram em uníssono:

“Vai à merda!” e continuaram a beber...

Papai Noel saiu, pegou um saco de brinquedos bem grande, nariz fungando, tosse com chiadeira, secreção, encheu o saco de brinquedos, foi ao trenó que estava coberto de neve. Colocou o saco sobre o trenó. O saco de brinquedos caiu do outro lado na neve, espalhou um monte de coisas. Espirro. Foi ao outro lado, agachou, colocou os brinquedos no saco, recolocou no trenó. Os duendes caindo no chão de tanto rir. O bom velhinho soltou um palavrão.

Foi buscar as renas. Uma estava com a pata quebrada, outra lhe deu um coice. Amarrou todas e jogou toda a força do seu peso para tirá-las do curral. Conseguiu. Pisou num monte macio e mal cheiroso. Outro palavrão. Amarrou as renas nas correias do trenó.

Subiu na boléia, torceu o tornozelo, fungou novamente e chichoteou as renas com tanta raiva que o trenó virou, caindo em cima do joelho da artrose. Os brinquedos se espalharam novamente na neve, ele fungava, caído com a perna embaixo do trenó. Uma rena soltou o barro fedorento perto dele.

Nesta parte da história entra o anjinho, com os cabelos cacheados pintados de loiro, asinhas postiças, sem um floco de neve, puxando um pinheiro enorme recém cortado da floresta.

Papai Noel está fulo de raiva e olha o anjinho com um ódio capaz de assar um humano normal, ainda caído, com gelo entrando nas roupas, o tornozelo torcido, fungando...

Foi aí que o anjinho perguntou ao Papai Noel deitado na neve, sob uma platéia de duendes bêbados que não parava de rir do velhinho:

— E aí Papai Noel, aonde eu enfio este pinheiro?

E aí está a explicação do porquê toda árvore de Natal ter um anjinho na ponta...

Em tempo:


Feliz Natal a todos os que ainda acreditam em Papai Noel, duendes e anjinhos. Que o maior presente seja o renascimento dentro de nossos corações, de toda a bondade e o amor que deveriam sempre nortear a humanidade e os nossos caminhos.


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