domingo, 23 de novembro de 2008

TRINDADE (livro de Leon Uris)


Quando um Parlamento decide que nenhum católico pode possuir terras, nem votar, exercer cargos públicos, ser funcionário estatal, portar armas, ter bens superiores a cinco libras, ser educado no estrangeiro, ou exercer profissões liberais, entre outras restrições, é possível começar a entender uma parte da revolta dos católicos que viviam na Irlanda nos séculos XVIII e XIX. Esse código penal foi revogado mais tarde, mas as seqüelas permanecem gravadas no subconsciente dos irlandeses até os dias de hoje.

Este romance, do mesmo autor de Exodus, confunde-se com a própria história da Irlanda. Apesar do livro ter sido escrito há mais de vinte e cinco anos é, com certeza, muito atual. Leon Uris escolheu, para iniciar a narrativa, os meados do século XIX, quando a Grande Fome assolou o país, principalmente Ulster (condados do norte da Irlanda), devido à podridão das batatas, monocultura de sobrevivência para os irlandeses católicos. Deus abandonou a Irlanda em 1846. A praga atacou em anos seguintes também. Mais de um milhão de irlandeses morreram. Os ingleses fizeram de tudo para dificultar ainda mais a vida dos irlandeses católicos, no intuito de proteger seus próprios interesses na Irlanda. Houve muita crueldade, além de pouco caso por parte da comunidade britânica. Os católicos que puderam, juntaram suas parcas economias e emigraram para outros países, geralmente de língua inglesa (a própria Inglaterra, assim como Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia e Austrália).

Descreve-se o conflito e a luta da Irlanda para conquistar sua independência. É a história de católicos menosprezados e de magnatas protegidos pela Coroa Britânica. Um jovem católico rebelde, uma garota protestante corajosa e um aristocrata anglicano arrogante são alguns dos personagens entremeados nesse romance histórico. A nítida diferença entre a classe trabalhadora católica de baixa renda e os abastados da oligarquia dominante é uma preocupação constante do autor.

O livro termina com o Levante na segunda-feira após a Páscoa de 1916, quando foi criada uma declaração de independência. Os líderes da revolta foram condenados à morte por um tribunal secreto e fuzilados. Com aquelas execuções, o povo irlandês sentiu-se mais ultrajado do que nunca, e o levante converteu-se na derrota mais gloriosa da Irlanda.

Cinco anos mais tarde, em dezembro de 1921, com a exceção dos condados de Ulster, onde há predomínio de protestantes anglicanos e presbiterianos, os irlandeses obtiveram sua independência, formando a República da Irlanda (Eire), cuja capital é Dublin. Ulster, ou seja, Irlanda do Norte, permanece nas mãos dos britânicos até hoje, e cuja capital é Belfast.

Qualquer leitor, quando findar o livro, não será mais o mesmo. Além de vislumbrar com maior clareza a causa irlandesa, compreenderá por que mesmo hoje os britânicos não conseguem controlar a minoria católica irlandesa da Irlanda do Norte, a qual reivindica sua independência.

Nas palavras de Leon Uris: “A república acabou surgindo, mas as mágoas e os problemas nunca abandonaram aquela terra trágica e maravilhosa. Pois, veja você, na Irlanda não há futuro, apenas o passado ocorrendo indefinidamente.”

2 comentários:

  1. Anônimo23:13:00

    Para quem quer entender a vida com suas belezas e tristezas é uma excelente escolha , como diz no comentário você não será o mesmo depois de ler este livro.

    ResponderExcluir
  2. Anônimo17:33:00

    É um livro que envolve de uma maneira que te faz sentir as mesmas sensações de alegria, dor e tristeza dos personagens. Alguém só conseguirá entender um povo tão fascinante quanto o irlandês após ler esse livro.

    Will

    ResponderExcluir