
Mas quem dizia que pegávamos no sono? Meus irmãos mais velhos costumavam ficar acordados até mais tarde conversando com os pais ou então levando “bronca”, como podia acontecer, e suas vozes ecoavam pela casa assobradada até meu quarto.
Freqüentemente ouvíamos as pernas das cadeiras sendo arrastadas pelo parquete e então sabíamos que os quatro — meus pais e irmãos — estavam prestes a jogar. Eu até sabia que jogo era, porque durante o dia minha mãe deixava que brincasse com as peças, que ficavam guardadas num estojo de quatro gavetas. Mas ela não tirava o olho delas, porque o jogo não lhe pertencia. Eram pedrinhas feitas de marfim, retangulares, um pouco maiores que as de dominó, com caracteres e desenhos que nos meus quatro-cinco anos de idade, não entendia. Porém, sabia de uma coisa: o nome do jogo, pois retumbava pela casa quando um dos jogadores terminava a partida e gritava vitorioso: “Mah-jongg!”.
Depois de meses, tiveram de devolvê-lo ao dono, porque surgira uma proibição de jogos de cartas no clube inglês de São Paulo e, em substituição ao bridge, resolveu-se jogar Mah-jongg. É do que me lembro daqueles remotos tempos para explicar o desaparecimento das peças do nosso lar.
Quase um quarto de século depois, folheando um livro sobre jogos, encontrei as regras do Mah-jongg. Na mesma hora, tratei de procurar o bairro oriental de São Paulo, a Liberdade, e não é que encontrei o jogo, só que agora numa maleta aveludada, com quatro bandejas de pedras, em vez de gavetas.
Tal qual meus pais e irmãos, passei a jogar Mah-jongg com a minha esposa e filhos. Tornou-se um hábito jogarmos em nossa casa de campo, nos fins de semana. Até os vizinhos aprenderam o jogo e varávamos a noite na jogatina.
Na ocasião, ocorria uma epidemia devastadora de meningite em São Paulo e eu dava plantão em hospital de isolamento. Não podíamos sair do plantão nem para as refeições e o hospital estava sempre lotado. Havia pouco para se fazer depois de termos passado visita aos pacientes internados e os colegas recorriam às cartas. Entretanto, era tédio demais. Sugeri o Mah-jongg e levei a maleta para verem. Aceitaram com reservas, mas somente nas primeiras horas, até aprenderem o “bê-á-bá”. A epidemia durou quase um ano e durante os plantões só se falava em Mah-jongg. Dois entusiastas até compraram o jogo lá na Liberdade. Um deles mora atualmente em São Carlos e o outro ainda está aqui em São Paulo. Não os vejo há muitos anos.
O jogo de Mah-jongg está guardado, à espera de renovação de interesses. As crianças cresceram e só querem saber de namorar. Nada de ficar em torno de uma mesa de jogo. Os nossos interesses, também, se alteraram com o tempo e o jogo foi relegado a um segundo plano.
No entanto, é um jogo muito popular nos Estados Unidos e na Inglaterra e, recentemente, fiquei sabendo que também se joga na Catalunha. No filme “Conduzindo Miss Daisy” aparece uma cena na qual está se jogando Mah-jongg.
É desnecessário dizer que no Oriente, principalmente na China — de onde é originário — e no Japão, joga-se muito e por consideráveis somas de dinheiro. Os jogadores passam noites em claro jogando e apostando, até a partida final.
É um jogo de peças atraentes e bonitas, interessante, divertido e sagaz.
Quem se habilita?
(escrita em 1998)
Eu adoooooooooooro este jogo!! Ah, que bons tempos quando passávamos as noites na chácara a jogar o Mah-Jongg.
ResponderExcluirAlém de um jogo instigante e viciante, é muito bonito esteticamente. Agradável, competitivo.
Quero jogar de novo, hein!! E ainda vou comprar o meu!!!!
Não existe nada melhor para passar o tedioso tempo, em um plantão, que um "joguinho".Só que este Mah jongg eu nunca ouví falar. Deve ser bom e, como pude observar, não é só "para inglês ver".
ResponderExcluirUm abraço