quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

MAH-JONGG

Quando crianças, minha irmã e eu tínhamos de estar de pijamas e na cama às seis da tarde, muitas vezes ainda dia claro. Quando nossos pais nos permitiam dormir uma hora mais tarde, era uma grande vitória.
Mas quem dizia que pegávamos no sono? Meus irmãos mais velhos costumavam ficar acordados até mais tarde conversando com os pais ou então levando “bronca”, como podia acontecer, e suas vozes ecoavam pela casa assobradada até meu quarto.
Freqüentemente ouvíamos as pernas das cadeiras sendo arrastadas pelo parquete e então sabíamos que os quatro — meus pais e irmãos — estavam prestes a jogar. Eu até sabia que jogo era, porque durante o dia minha mãe deixava que brincasse com as peças, que ficavam guardadas num estojo de quatro gavetas. Mas ela não tirava o olho delas, porque o jogo não lhe pertencia. Eram pedrinhas feitas de marfim, retangulares, um pouco maiores que as de dominó, com caracteres e desenhos que nos meus quatro-cinco anos de idade, não entendia. Porém, sabia de uma coisa: o nome do jogo, pois retumbava pela casa quando um dos jogadores terminava a partida e gritava vitorioso: “Mah-jongg!”.
Depois de meses, tiveram de devolvê-lo ao dono, porque surgira uma proibição de jogos de cartas no clube inglês de São Paulo e, em substituição ao bridge, resolveu-se jogar Mah-jongg. É do que me lembro daqueles remotos tempos para explicar o desaparecimento das peças do nosso lar.
Quase um quarto de século depois, folheando um livro sobre jogos, encontrei as regras do Mah-jongg. Na mesma hora, tratei de procurar o bairro oriental de São Paulo, a Liberdade, e não é que encontrei o jogo, só que agora numa maleta aveludada, com quatro bandejas de pedras, em vez de gavetas.
Tal qual meus pais e irmãos, passei a jogar Mah-jongg com a minha esposa e filhos. Tornou-se um hábito jogarmos em nossa casa de campo, nos fins de semana. Até os vizinhos aprenderam o jogo e varávamos a noite na jogatina.
Na ocasião, ocorria uma epidemia devastadora de meningite em São Paulo e eu dava plantão em hospital de isolamento. Não podíamos sair do plantão nem para as refeições e o hospital estava sempre lotado. Havia pouco para se fazer depois de termos passado visita aos pacientes internados e os colegas recorriam às cartas. Entretanto, era tédio demais. Sugeri o Mah-jongg e levei a maleta para verem. Aceitaram com reservas, mas somente nas primeiras horas, até aprenderem o “bê-á-bá”. A epidemia durou quase um ano e durante os plantões só se falava em Mah-jongg. Dois entusiastas até compraram o jogo lá na Liberdade. Um deles mora atualmente em São Carlos e o outro ainda está aqui em São Paulo. Não os vejo há muitos anos.
O jogo de Mah-jongg está guardado, à espera de renovação de interesses. As crianças cresceram e só querem saber de namorar. Nada de ficar em torno de uma mesa de jogo. Os nossos interesses, também, se alteraram com o tempo e o jogo foi relegado a um segundo plano.
No entanto, é um jogo muito popular nos Estados Unidos e na Inglaterra e, recentemente, fiquei sabendo que também se joga na Catalunha. No filme “Conduzindo Miss Daisy” aparece uma cena na qual está se jogando Mah-jongg.
É desnecessário dizer que no Oriente, principalmente na China — de onde é originário — e no Japão, joga-se muito e por consideráveis somas de dinheiro. Os jogadores passam noites em claro jogando e apostando, até a partida final.
É um jogo de peças atraentes e bonitas, interessante, divertido e sagaz.
Quem se habilita?

(escrita em 1998)

2 comentários:

  1. Anônimo20:40:00

    Eu adoooooooooooro este jogo!! Ah, que bons tempos quando passávamos as noites na chácara a jogar o Mah-Jongg.
    Além de um jogo instigante e viciante, é muito bonito esteticamente. Agradável, competitivo.
    Quero jogar de novo, hein!! E ainda vou comprar o meu!!!!

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  2. Anônimo12:31:00

    Não existe nada melhor para passar o tedioso tempo, em um plantão, que um "joguinho".Só que este Mah jongg eu nunca ouví falar. Deve ser bom e, como pude observar, não é só "para inglês ver".
    Um abraço

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