sábado, 8 de dezembro de 2007

FUMAR, OU NÃO FUMAR, EIS A QUESTÃO...

Fazia tempo que nós, estudantes de medicina, jogávamos vôlei juntos. Nós nos reuníamos, todo fim de semana, na casa de Antonio, um senhor cerca de 25 anos mais velho. Aos domingos, chegávamos mais cedo, por insistência dele, e começávamos a jogar, depois íamos para a piscina, jogávamos mais um pouco e, em seguida, saboreávamos um delicioso churrasco. Sua esposa nos acolhia com ternura, por sermos seus amigos. Isso durou quase dois anos. Antonio tinha apenas um grande defeito: fumava sem parar. Jogando vôlei, às vezes, tinha acessos de tosse que nos obrigava a interromper a partida. Dentre nós, metade fumava, também. Certo dia, fomos avisados que ele fora internado no hospital e submetido a uma cirurgia torácica. Um colega nosso, e vizinho de Antonio, participou da operação. Este, que também fumava, disse-nos que nunca tinha visto um pulmão tão preto, impregnado pelo alcatrão e pela nicotina. Jurou que jamais voltaria a colocar um cigarro na boca. Infelizmente, Antonio não resistiu à intervenção e faleceu.
Como crianças, éramos instigados ao cigarro pelos adultos, fosse em casa, na escola ou nos cinemas. Minha primeira experiência foi aos 11 anos, escondido atrás de uma sebe, no pátio da escola, fora da visão do Inspetor de Alunos. Se gostei ou não, nem me lembro, no entanto, insistia em fumar, para mostrar aos coleguinhas como era adulto; eles, da mesma forma. Oh, mentalidade infantil estúpida! Ao ser descoberto, o castigo foi tão pesado, que só voltei a fumar no tempo da faculdade. Comecei com cachimbo, e daí para o cigarro, foi um passo.
Todavia, mesmo naquele tempo, não suportava o cheiro de toco de cigarro apagado e, muito menos, o bafo de fumantes. Beijar uma moça que fumasse, então, virava meu estômago. Era como se estivesse beijando um cinzeiro!
Certa feita, já formado, fui consultar uns periódicos na biblioteca da faculdade, fumando, como sempre. Chegava a fumar dois maços de cigarros, em um plantão de 24 horas! Saindo da biblioteca, fui tomar o elevador para ir embora. Lá estava eu, fumando, quando chegou um dos professores mais importantes da faculdade, que não me conhecia. Hoje, tenho a honra de tê-lo como um bom amigo.
— Doutor, o senhor não sabe que não se pode fumar aqui? — perguntou, com aspereza.
Este doutor, recém-formado, dono de seu próprio nariz, sem nada a perder, respondeu na mesma hora:
— Desculpe, Professor, mas se há cinzeiro com areia aqui, junto à porta do elevador, imagino que se possa fumar.
Ele apenas olhou para onde eu apontara, virou-se, e foi embora. Até hoje, não há mais cinzeiros naquele local, em nenhum dos andares e há, na parede, uma plaqueta de “Proibido Fumar”.
Havia decidido parar com esse vício, por não achar justo que os membros de minha família continuassem como fumantes involuntários. Durante um ano, fui-me preparando para largar, definitivamente, o cigarro. Diminuíra o número para uns cinco cigarros por dia. Coincidiu que tive uma forte faringite, por processo gripal, e fui obrigado a diminuir para um cigarro por dia. Foi aí que acordei ao fato de que era a oportunidade de ouro para cessar com o fumo. Foi o que fiz.
Nunca mais fumei. Não que deixasse de ter vontade. Lembro-me bem da ocasião em que nascera o filho de um colega. Deu-me um charuto. Cheirava o charuto, mas não tive coragem de acendê-lo. Dei a outro colega, que estava presente na reunião onde ganhara o mesmo.
Lá se vão 15 anos sem o maldito. Hoje, dificilmente sinto a necessidade de um cigarro. Mesmo assim, não posso controlar meus sonhos. Por vezes, acordo no meio da noite, com o sabor do cigarro na boca...

Um comentário:

  1. Anônimo20:26:00

    Visitei seu blog.
    Lí a do cigarro (vc era uma besta mesmo) e a do garoto que prendeu o pé.
    Já tinha lido antes.
    Está muito bonito.

    Nelson

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