sexta-feira, 18 de junho de 2010

A PROCURA PELA PEDRA FLEXÍVEL

Quando mencionei a um amigo escocês que iria passar uns dias em Ouro Preto, ele fez um pedido bastante curioso: queria que comprasse uma pedra flexível de cuja existência eu desconhecia. De fato, duvidava que houvesse algo assim na natureza. No entanto, consultando a Internet, encontrei referências à pedra flexível, e em Ouro Preto! Mesmo assim, continuei descrente, sem imaginar como ela seria.

Aparentemente não se trata de uma rocha muito conhecida, pois a maioria das pessoas questionadas não tinha ouvido falar na dita cuja. Meu amigo teve a mesma dificuldade quando esteve em Ouro Preto anos atrás. Parecia que ele sabia mais a respeito da pedra flexível que os moradores. Chegaram a me sugerir que fosse a pedra-sabão, tão divulgada em Minas Gerais graças às obras do Aleijadinho, mas eu sabia que sua consistência não permitiria que se tornasse flexível.

Procurei informações no centro histórico da antiga capital de Minas Gerais. Numa joalheria, a gerente me disse que era uma pedra muito rara e não soube especificar onde encontrá-la. Visitando uma feira de artigos em pedra-sabão, mais uma vez insisti na minha busca. Numa das bancas sugeriu-se que procurasse um senhor num dos cantos da feira que vendia diversos tipos de pedras. Fui atendido por um comerciante usando óculos grossos, os tradicionais “fundos de garrafa” e que conhecia a rocha. Explicou-me que era realmente uma pedra muito rara e achava que o único lugar possível onde poderia vê-la seria no Museu de Mineralogia de Ouro Preto.

Entrando no museu, minha primeira pergunta foi sobre a pedra flexível. Lá estava ela em exposição na própria recepção do museu, dentro de uma caixa de vidro, com uma base de madeira e suportes para manter a pedra em pé em seu interior. Na base desta caixa estava sua identificação: quartzolito flexível. Era ver para crer!

Havia também peças à venda. Tenho minhas dúvidas quanto à raridade da pedra flexível, pois havia várias para escolher. O quartzolito flexível se assemelha ao arenito e tem a consistência dura de qualquer rocha. Examinei e escolhi uma pedra medindo cerca de 40 x 20 cm, com uma espessura próxima a um centímetro. Ela só pode ser levantada em posição vertical, com todo cuidado, como se fosse uma lâmina de vidro, para não partir no meio. Nesta posição pode-se observá-la em todo seu esplendor de flexibilidade, rebolando como uma gelatina. É difícil crer, mas a pedra balança e se move mesmo!

Parece que a flexibilidade da rocha se deve a grãos de quartzo bem interligados e que se encontram separados um dos outros por espaços vazios supostamente causados por uma dissolução química nas bordas destes grãos.

Vitorioso por ter encontrado a famigerada pedra, ao voltar para casa mandei um E-mail para meu amigo escocês. Ele estranhou que tivesse tido dificuldade em encontrar o quartzolito, pois ele o tinha visto no Museu de Mineralogia. Só não me informou porque eu não havia perguntado! Na ocasião em que ele esteve em Ouro Preto, não conseguiu encontrar quem lhe vendesse a bendita pedra.

Foi até bom que não tivesse conhecimento de onde encontrar a pedra flexível. Assim tornou-se mais interessante a aventura de descobrí-lo. A pouca divulgação sobre aquela pedra faz supor que não há muita procura por ela, fazendo com que as pessoas que já tomaram conhecimento de sua existência não-lendária a considerem uma pedra muito rara.

Foi necessário um estrangeiro em visita ao Brasil, vindo da longínqua Escócia, nos alertar da presença desta rocha tão interessante em nosso meio. A peça foi acondicionada adequadamente para não quebrar e será levada para ele como uma lembrança por ter-me dado esse prazer de conhecer mais um mistério de nosso país.



6 comentários:

  1. Que legal Walter, olha como nós brasileiros somos... eu também nunca tinha ouvido falar, bjs.

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  2. Ricardo M. Miranda10:38:00

    Seu blog está maravilhoso!
    E aí? Como foi o congresso em Ouro Preto?
    Se todas pedras fossem flexíveis haveria alguém procurando uma pedra dura.
    Na idade que estamos, para sobreviver, nos transformamos em árvores maduras cujo tronco precisa de uma estrutura forte e rígida. Lá em cima nossos galhos são cada vez mais finos, delicados e flexíveis aos novos ventos que sopram, tentando nos arrancar partes fragilizadas e outros, mais delicados, nos acariciam com uma leve brisa, sinal que nos respeitam e se harmonizam conosco.
    Resumo: Pedra que é pedra tem que ser dura mesmo e fim!

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  3. cjbenatti10:43:00

    Visitei seu blog...
    admirável...
    Parabéns...

    benatti

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  4. Pedro Maranhão17:56:00

    Professor, parabéns pelo site, muito bem montado. Também nunca tinha ouvido falar na pedra flexível, muito legal. Grande abraço,

    Pedro Maranhão

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  5. Ivette Kairalla19:24:00

    Oh!!!! Muito legal e muito obrigada por insistir em me passar esta informação tão interessante e por todo este trabalho!!! Que amigos complicados que você tem, não? O escocês e eu! Um abração, Ivette

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  6. Therezinha A. Coelho de Castro21:41:00

    CRÍTICAS

    I - Positivas
    Crônica muito curiosa e interessante sobre tema extraordinário e informativo.
    Redação clara e objetiva muito agradável de ser lida pela redação fluente.
    Estrutura de frase que nos mantém envolvidos com o tema central.

    II - Negativa
    Dar inveja a quem gostaria de escrever tão bem!!! e com tanta facilidade.

    Abraços, TACC

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