sexta-feira, 18 de novembro de 2016

O REI ARTUR E A TÁVOLA REDONDA




 O Rei Artur é uma figura histórica, no sentido de simbolizar um acontecimento verdadeiro, ou seja, a luta dos celtas contra a invasão dos saxões durante o século V e começo do século VI da era cristã. Por outro lado, embora tenha sido identificado como rei dos celtas, ele não é histórico, pois a existência dele jamais foi comprovada. O que tem chegado aos nossos dias não é uma biografia, mas uma lenda de extraordinária beleza. A maioria dos historiadores acha que Artur provavelmente existiu, ou como um indivíduo, ou como a composição de várias pessoas. Já que muitos heróis medievais eram homens de verdade, há a possibilidade de que Artur tivesse sido um guerreiro medieval celta, sobre o qual foi construída uma superestrutura mitológica. Suas histórias se tornaram importantes como base da origem da Inglaterra atual, principalmente pela narrativa do relacionamento entre saxões e celtas.

Dizem que nasceu em Tintagel, sob a proteção do mago Merlin. Há muita magia em torno do nome de Artur. Viveu com sua esposa, a Rainha Guinevere, em Camelot, sede de sua corte. Outro local importante na lenda arturiana é Avalon, onde Viviane, a Dama do Lago, entregou para Artur a espada Excalibur. Uma outra, que tinha sido dada por Merlin, fora quebrada em combate. Quando Artur se feriu gravemente na sua última batalha, foi levado para Avalon, onde acabou morrendo.

A primeira descrição que se tem de uma távola redonda relacionada com o Rei Artur foi em 1155, pela disputa entre seus cavaleiros que não aceitavam ficar num lugar mais inferior do que de seus pares. Daí a távola redonda, ou seja, uma mesa arredondada, que deixava todos em igualdade de condições à mesa, pois não havia nenhuma cabeceira. Lendas à parte, consta em certas crônicas que o próprio Carlos Magno (c.742-814) possuía uma távola redonda decorada com o mapa de Roma.

A cidade de Winchester, que era “a primeira cidade do Reino Saxão Ocidental”, nunca foi considerada a capital da Inglaterra, pois o consenso geral entre historiadores sobre os anglo-saxões era de que a corte real era itinerante naquela época e não havia uma capital fixa. Duas estruturas são de suma importância: a Catedral e o Castelo. A catedral é bem conhecida, por possuir a mais longa nave de todas as catedrais góticas da Europa. O Castelo de Winchester, originalmente construído para Guilherme, O Conquistador, em 1067, tem o Grande Salão como a única estrutura remanescente. O castelo é famoso, porque lá se encontra uma imitação da Távola Redonda do Rei Artur, e o tampo da mesa está pendurado numa parede deste salão. Acredita-se que esta mesa redonda tenha sido feita para um torneio próximo de Winchester, festejando o enlace de uma filha do Rei Eduardo I, em 1290.

Tomei conhecimento de que a Távola Redonda existia mesmo quando, em 1958, li sobre a mesma no jornal “O Estado de São Paulo”. Guardo o recorte até hoje e fiz uma promessa de que na minha primeira visita à Inglaterra, conheceria esta famosa e lendária mesa. Só consegui cumprir minha intenção 34 anos depois!

É, sem sombra de dúvida, uma mesa fantástica, muito elegante. O tampo mede 5,5m de diâmetro, com espessura de quase 10cm, pesa 1200kg e é feito de carvalho inglês maciço. Está exposta numa das paredes do Grande Salão seguramente desde 1522; provavelmente desde 1348, ano em que se fez uma reforma do salão. A decoração pintada que vi, foi feita no reino de Henrique VIII, que mandou inserir a rosa dos Tudors em seu centro (símbolo de sua dinastia). As cores são tão vivas que parecem ter sido feitas ontem. Logo acima da rosa central encontra-se a figura de Henrique VIII, como a substituir o Rei Artur. Nas bordas da mesa há os nomes de 24 dos lendários Cavaleiros da Távola Redonda (vários nomes vem à mente: Sir Percival, Sir Lancelot, Sir Galahad e Sir Mordred). Torna-se impossível ler o que está escrito, pois o tampo está erguido a uns seis metros do chão. Mesmo observando uma fotografia de perto, para nós, leigos, as palavras góticas ficam difíceis de ler! Esta pintura foi feita especialmente para impressionar Carlos V, da Espanha, quando visitou a Inglaterra naquele ano de 1522. Parece que, originalmente, a mesa não possuía nenhuma decoração. Há sinais de que o tampo fora coberto, antes da decoração mencionada, com feltro ou couro. Com o passar do tempo teve de ser removido, provavelmente porque apodreceu.

As histórias do Rei Artur e seus nobres Cavaleiros da Távola Redonda perduram há mais de 1500 anos e é uma saga épica de fascinante interesse para historiadores e leigos.

Quem visita Winchester, vislumbrando a mesa, pode usar seu imaginário e ver os lugares ocupados por aqueles cavaleiros com suas vestes deslumbrantes, seus elmos e suas espadas, prontos para defender o Rei Artur de saxões e outros invasores, sabendo que suas famílias estariam seguras e os esperavam em Camelot.


8 comentários:

  1. Anônimo16:08:00

    Sensacional Waltão!
    Nem o "outro" legendário advogado, Matthew Shardlake, escreveria melhor...

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    1. Corsato,
      Que bom que gostou.
      Estou ansioso por novo livro de Matthew Shardlake. Tenho a série toda (seis livros, o último escrito em 2014). Segundo a Wikipedia, C.J. Sansom não escreveu mais nada a respeito daquele advogado.
      Vamos torcer para que se inspire e escreva mais...

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  2. Geovah09:00:00

    Walter, gostei imensamente do texto sobre o Rei Arthur. Muito curioso e interessante. Parabéns.
    Um abração
    Geovah

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    1. Walter13:17:00

      O rei Artur é um enigma que persigo há anos. Recomendo o livro "As Brumas de Avalon", de autoria de Marion Zimmer Bradley, um romance sobre Artur, Camelot etc, muito bem escrito.

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  3. Sérgio10:04:00

    Muito bom, Waltão.
    Despertou o interesse em conhecer de perto esta tampa de mesa e mais sobre a história do Rei Arthur.
    Abs.
    Sérgio

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    1. Walter13:22:00

      Precisa visitar Winchester. Vale a pena. Leia o romance "As Brumas de Avalon", de autoria de Marion Zimmer Bradley, para ter uma noção melhor daqueles tempos...

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  4. José Maria Chaves10:08:00

    Mais uma vez cumprimento-o, pela maneira fácil e leve de escrever, deliciando-nos com as suas matérias literárias. Excelente o texto sobre a Távola Redonda.
    Sensacional, também, o "A noite mal dormida"
    Parabéns! "Vosmecê" tem CGS. Não, não é o nosso sistema decimal (Centimetro, Grama, Segundo) não, e sim: Conhecimento Geral de Sobra.
    Um grande e fraternal abraço, José Maria Chaves. 

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    1. Meu Caro Chaves,
      Obrigado pelos imerecidos elogios.
      Abraços,
      Walter

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