O Rei Artur é uma figura histórica, no
sentido de simbolizar um acontecimento verdadeiro, ou seja, a luta dos celtas
contra a invasão dos saxões durante o século V e começo do século VI da era
cristã. Por outro lado, embora tenha sido identificado como rei dos celtas, ele
não é histórico, pois a existência dele jamais foi comprovada. O que tem
chegado aos nossos dias não é uma biografia, mas uma lenda de extraordinária
beleza. A maioria dos historiadores acha que Artur provavelmente existiu, ou
como um indivíduo, ou como a composição de várias pessoas. Já que muitos heróis
medievais eram homens de verdade, há a possibilidade de que Artur tivesse sido
um guerreiro medieval celta, sobre o qual foi construída uma superestrutura mitológica.
Suas histórias se tornaram importantes como base da origem da Inglaterra atual,
principalmente pela narrativa do relacionamento entre saxões e celtas.
Dizem que nasceu em Tintagel, sob a
proteção do mago Merlin. Há muita magia em torno do nome de Artur. Viveu com
sua esposa, a Rainha Guinevere, em Camelot, sede de sua corte. Outro local
importante na lenda arturiana é Avalon, onde Viviane, a Dama do Lago, entregou
para Artur a espada Excalibur. Uma outra, que tinha sido dada por Merlin, fora
quebrada em combate. Quando Artur se feriu gravemente na sua última batalha,
foi levado para Avalon, onde acabou morrendo.
A primeira descrição que se tem de uma
távola redonda relacionada com o Rei Artur foi em 1155, pela disputa entre seus
cavaleiros que não aceitavam ficar num lugar mais inferior do que de seus
pares. Daí a távola redonda, ou seja, uma mesa arredondada, que deixava todos
em igualdade de condições à mesa, pois não havia nenhuma cabeceira. Lendas à
parte, consta em certas crônicas que o próprio Carlos Magno (c.742-814) possuía
uma távola redonda decorada com o mapa de Roma.
A cidade de Winchester, que era “a primeira cidade do Reino Saxão Ocidental”, nunca foi
considerada a capital da Inglaterra, pois o consenso geral entre historiadores
sobre os anglo-saxões era de que a corte real era itinerante naquela época e não havia uma capital fixa. Duas estruturas são de
suma importância: a Catedral e o Castelo. A catedral é bem conhecida, por
possuir a mais longa nave de todas as catedrais góticas da Europa. O Castelo de
Winchester, originalmente construído para Guilherme, O Conquistador, em 1067, tem
o Grande Salão como a única estrutura remanescente. O castelo é famoso, porque
lá se encontra uma imitação da Távola Redonda do Rei
Artur, e o
tampo da mesa está pendurado numa parede deste salão. Acredita-se que esta mesa
redonda tenha sido feita para um torneio próximo de Winchester, festejando o
enlace de uma filha do Rei Eduardo I, em 1290.
Tomei conhecimento de que a Távola Redonda
existia mesmo quando, em 1958, li sobre a mesma no jornal “O Estado de São
Paulo”. Guardo o recorte até hoje e fiz uma promessa de que na minha primeira
visita à Inglaterra, conheceria esta famosa e lendária mesa. Só consegui cumprir
minha intenção 34 anos depois!
É, sem sombra de dúvida, uma mesa
fantástica, muito elegante. O tampo mede 5,5m de
diâmetro, com espessura de quase 10cm, pesa 1200kg e é feito de carvalho inglês
maciço. Está exposta numa das paredes do Grande Salão seguramente desde 1522; provavelmente
desde 1348, ano em que se fez uma reforma do salão. A decoração pintada que vi,
foi feita no reino de Henrique VIII, que mandou inserir a rosa dos Tudors em
seu centro (símbolo de sua dinastia). As cores são tão vivas que parecem ter
sido feitas ontem. Logo acima da rosa central encontra-se a figura de Henrique
VIII, como a substituir o Rei Artur. Nas bordas da mesa há os nomes de 24 dos
lendários Cavaleiros da Távola Redonda (vários nomes vem à mente: Sir
Percival, Sir Lancelot, Sir Galahad e Sir Mordred).
Torna-se impossível ler o que está escrito, pois o tampo está erguido a uns
seis metros do chão. Mesmo observando uma fotografia de perto, para nós,
leigos, as palavras góticas ficam difíceis de ler! Esta pintura foi feita
especialmente para impressionar Carlos V, da Espanha, quando visitou a
Inglaterra naquele ano de 1522. Parece que, originalmente, a mesa não possuía
nenhuma decoração. Há sinais de que o tampo fora coberto, antes da decoração mencionada,
com feltro ou couro. Com o passar do tempo teve de ser removido, provavelmente
porque apodreceu.
As histórias do Rei Artur e
seus nobres Cavaleiros da Távola Redonda perduram há mais de 1500 anos e é uma
saga épica de fascinante interesse para historiadores e leigos.
Quem visita Winchester,
vislumbrando a mesa, pode usar seu imaginário e ver os lugares ocupados por
aqueles cavaleiros com suas vestes deslumbrantes, seus elmos e suas espadas,
prontos para defender o Rei Artur de saxões e outros invasores, sabendo que
suas famílias estariam seguras e os esperavam em Camelot.
Sensacional Waltão!
ResponderExcluirNem o "outro" legendário advogado, Matthew Shardlake, escreveria melhor...
Corsato,
ExcluirQue bom que gostou.
Estou ansioso por novo livro de Matthew Shardlake. Tenho a série toda (seis livros, o último escrito em 2014). Segundo a Wikipedia, C.J. Sansom não escreveu mais nada a respeito daquele advogado.
Vamos torcer para que se inspire e escreva mais...
Walter, gostei imensamente do texto sobre o Rei Arthur. Muito curioso e interessante. Parabéns.
ResponderExcluirUm abração
Geovah
O rei Artur é um enigma que persigo há anos. Recomendo o livro "As Brumas de Avalon", de autoria de Marion Zimmer Bradley, um romance sobre Artur, Camelot etc, muito bem escrito.
ExcluirMuito bom, Waltão.
ResponderExcluirDespertou o interesse em conhecer de perto esta tampa de mesa e mais sobre a história do Rei Arthur.
Abs.
Sérgio
Precisa visitar Winchester. Vale a pena. Leia o romance "As Brumas de Avalon", de autoria de Marion Zimmer Bradley, para ter uma noção melhor daqueles tempos...
ExcluirMais uma vez cumprimento-o, pela maneira fácil e leve de escrever, deliciando-nos com as suas matérias literárias. Excelente o texto sobre a Távola Redonda.
ResponderExcluirSensacional, também, o "A noite mal dormida"
Parabéns! "Vosmecê" tem CGS. Não, não é o nosso sistema decimal (Centimetro, Grama, Segundo) não, e sim: Conhecimento Geral de Sobra.
Um grande e fraternal abraço, José Maria Chaves.
Meu Caro Chaves,
ExcluirObrigado pelos imerecidos elogios.
Abraços,
Walter